“Onde houver desigualdade, invista o melhor dos recursos humanos, financeiros e técnicos”, destaca o antropólogo Uribe

Natural de Medellín, na Colômbia, o antropólogo Santiago Uribe participou da transformação que fez com que a cidade deixasse de ser a mais violenta do mundo, para se tornar referência em inovação. Na década de 1980, Medellín era conhecida pelo tráfico de drogas e alta criminalidade. Nos anos 90, registrava 6.349 homicídios anuais, mas esse número caiu para 319, em 2022. Hoje, a cidade se destaca como polo de criatividade e inovação social, resultado do urbanismo social, na escuta ativa da população e na união entre governo, setor privado e sociedade civil.

Durante a 2ª edição do “Health Innovation Day – Conectando saúde, inovação e desenvolvimento”, realizado no dia 7 de agosto, em Itabira, o antropólogo apresentou o Case de Medellín: Como criar cidades inovadoras. O evento, promovido pelo Sebrae Minas e Hospital Nossa Senhora das Dores, reuniu autoridades governamentais, lideranças empresariais, empreendedores, comunidade acadêmica e ecossistema local de inovação de Itabira e região. O objetivo foi debater desafios e caminhos para tornar a cidade um polo de inovação no setor de saúde.

Confira a entrevista com o antropólogo:

Quando você percebeu que o urbanismo social seria uma ferramenta para a transformação de Medellín?

Ao reconhecer que problemas como a desigualdade e a segregação socioespacial poderiam ser resolvidos com melhorias nos serviços públicos, infraestrutura, planejamento urbano e arquitetura. Seria necessário levar, também para as periferias, serviços de qualidade. Medellín, por exemplo, tem 26 parques e bibliotecas, todos nas periferias. As melhores bibliotecas da cidade estão localizadas nas periferias, onde jovens, crianças e a comunidade mais vulnerável precisam delas. Há 28 centros de desenvolvimento econômico nas periferias, onde as pessoas mais precisam alcançar o desenvolvimento econômico.

Como a Antropologia contribui para criar cidades inovadoras? E qual o seu papel neste processo de transformação da cidade?

Costumo dizer que a mensagem mais importante que Medellín envia ao mundo é considerar que o cerne da inovação é o conhecimento do cidadão. Ao reconhecer que as cidades são feitas de e por pessoas, compreender suas experiências de vida e como elas interagem com a cidade, é possível extrair informações, dados, insights e conexões emocionais que projetam soluções inovadoras para os desafios da cidade.

Em linhas gerais, o que é o “Case Medellín”?

É um planejamento que envolveu um trabalho conjunto entre os setores privado e público, além de universidades e organizações da sociedade civil. O objetivo era criar uma visão de longo prazo para a cidade, em um diálogo social muito amplo. O ponto de partida para a cidade foi reconhecer que tínhamos um grande desafio, e que seria necessário todos se unirem para encontrar a solução, com resultados a curto, médio e longo prazo.

Entre as mudanças observadas na transformação da cidade, qual a mais marcante?

Realizamos uma pesquisa que entrevistou quase 1,5 mil jovens da cidade, para entender quais questões mais os preocupavam. Na temática sobre Saúde Mental, 87% deles afirmaram que sentiam algum desconforto relacionado ao assunto, mas a maioria não buscava atendimento psicológico em função do preconceito praticado contra quem busca este tipo de local. Diante disso, foi idealizado um projeto maravilhoso chamado “Escutadero”, que envolve a retirada de psicólogos de hospitais e postos de saúde para atender em uma pequena infraestrutura nas ruas, em praças públicas, em estações de metrô. Eles fazem uma pergunta bem simples: “E aí, como vai a vida? Queremos ouvir uns aos outros. Após vários meses de testes, essa solução mostrou-se muito, muito próxima do cidadão.

Qual o seu conselho para cidades que enfrentam desafios semelhantes?

Coloque as pessoas no centro e, onde houver desigualdade, invista o melhor dos recursos humanos, financeiros e técnicos no desenvolvimento das comunidades mais vulneráveis. Isso é feito por meio de um Plano Urbanístico Integral, com equipamentos culturais, esportivos, educacionais e de saúde.

Assessoria de Imprensa Sebrae Minas – Regional Rio Doce e Vale do Aço
Flávia Ferraz – flavia.stark@sebraemg.com.br