‘Eu sou surdo, mas isso não me limita’ diz empreendedor Breno Oliveira

A 3ª edição do Seminário de Educação Empreendedora e Inclusiva, promovida pelo Sebrae Minas em Diamantina, teve início nesta quarta-feira (9/7) com uma programação que reúne nomes inspiradores para debater a importância do empreendedorismo e da inclusão na construção de uma educação mais justa e transformadora. O empreendedor Breno Oliveira abriu o evento, trazendo sua experiência à frente da il Sordo Gelato – gelateria fundada por ele, após se sentir invisibilizado no mercado de trabalho.

Breno é deficiente desde o nascimento devido à rubéola contraída por sua mãe durante a gravidez. Na infância foi desencorajado pela sua fonoaudióloga a utilizar a Língua Brasileira de Sinais, e frente a essa barreira, seus pais se juntaram a outros pais de crianças com deficiência auditiva para fundar a primeira escola especializada para surdos em Sergipe – o Instituto Pedagógico de Apoio à Educação do Surdo de Sergipe.

Com o avançar do tempo se tornou instrutor de libras, mas ao enfrentar o desemprego precisou transformar a rejeição em uma oportunidade de negócio. Nesse momento, revisitou sua formação escolar, que incluiu a disciplina de empreendedorismo, e aprendeu sobre elaboração de planos de negócios. Foi quando decidiu abrir o seu próprio negócio.

Hoje, a il Sordo Gelato conta com lojas em Aracaju, Salvador e São Paulo, e se tornou um exemplo de como transformar desafios em potência. No evento, a Agência Sebrae de Notícias (ASN-MG) conversou com exclusividade com Breno. Confira abaixo:

ASN-MG: Um dos maiores desafios para os empreendedores é vencer barreiras. Além da barreira de se inserir no mercado, você precisou vencer a barreira comunicacional. Como foi esse processo?

Breno: É um grande desafio. Em qualquer lugar que vamos as pessoas falam ‘eu não sei língua de sinais, eu não sei comunicar’. Eu precisei ir trabalhando isso aos poucos para que cada uma pudesse enxergar que é possível. A gente pode se comunicar por meio de gestos e escrita – eu posso te ensinar um pouco de Libras e alguns sinais. O primeiro passo foi trabalhar para excluir esse bloqueio e criar estratégias dentro da sociedade para que essa comunicação fluísse.

ASN-MG: Autoaceitação, autoafirmação, autodeclaração e autodeterminação. Podemos dizer que são pilares da sua carreira? Como entender isso fez a diferença?

Breno: Eu pensava que todo mundo era maior e melhor do que eu, mas a partir do momento que me conheci e me aceitei, eu entendi que não era bem assim. ‘Eu sou surdo e independentemente disso eu dou conta’. ‘O meu objetivo de trabalho é esse, e acredito no meu impacto social’. Isso me fez ignorar o que a sociedade pensa, me ajudou a mostrar o contrário para conquistar o meu espaço.

ASN-MG: Como a Il Sordo se posiciona e quais estratégias usa para ser um empreendimento acessível a todos os tipos de pessoas?

Breno: Com ferramentas simples. Além do uso de Libras e de disponibilizarmos intérprete, olhamos nos olhos das pessoas, mostramos com apontamento, tem rampa, piso tátil, cardápio em braile e até mesmo aplicativo para que todos tenham a experiência.

Destaco a importância do feedback, se chega um cliente que não se sentiu acolhido, eu vou conversar com ele para buscar uma adequação. Essa é a receita para que uma empresa seja referência de inclusão.

ASN-MG: Para finalizar, quais dicas você deixa para que a inclusão seja uma realidade dentro dos pequenos negócios?

Breno: Não é só fazer uma legenda. É preciso colocar a pessoa com deficiência também em cargos com protagonismo, ela precisa ser chamada e sua competência precisa ser reconhecida. Outro ponto é que as pessoas precisam saber como entrar, como ter acesso a sua empresa, as vezes não sabem que ali dentro tem um interprete. Essa comunicação precisa ser clara.

*A entrevista foi realizada com auxílio da intérprete Tatiana Quites.

Assessoria de Imprensa Sebrae Minas – Regional Jequitinhonha Mucuri

Samuel Martins (Stark)

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